sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ARTE? ONDE?


Por Jabs Barros

No corre-corre do dia-a-dia, quase não se tem tempo para uma boa alimentação: cachorro-quente, pastel, torta, bolo, esse é o cardápio. A preocupação de chegar atrasado ao trabalho é sempre constante e essa pressa pode causar situações desagradáveis. O pastel, que já estava frio numa bandeja, estava no ponto para degustação, o problema é que não dava pra encontrar o recheio. Para complementar a iguaria de sabor duvidoso, achei propício acrescentar grandes dosagens de um molho bem famoso, o “catchup”. Mas o alimento possuía um orifício em local estratégico que direcionava todo o molho para um local não apropriado: minha camisa branca.

Não havia mais tempo. Fui trabalhar. Antes de entrar onde se encontravam os companheiros de trabalho, passei no banheiro e tentei tirar aquela mancha da camisa. Não obtive sucesso. A sujeira tornou-se mais suave em alguns pontos e mais evidente em outros. Era o fim. O que diria meu patrão? Acho que a imagem da empresa ficaria comprometida. Talvez se eu não trabalhasse com atendimento ao público, o transtorno fosse menor, mas não deixaria de ser um transtorno.

Quanto mais eu dava bom dia, mais olhares a mancha recebia. Uns discretos, outros mais alvoroçados. Era perceptível a curiosidade das pessoas perante a horrenda sujeira. Um corajoso se aproximou e quis saber o que era aquilo em minha roupa. Eu, gaguejando e sem encontrar uma resposta convincente, tentei fazer rodeios. Mas ele logo complementou a pergunta, dizendo que tinha visto uma pintura semelhante numa exposição européia à qual tinha ido.

Era uma brincadeira. Ninguém consideraria algo daquele tipo como uma obra de arte. Não foi algo intencional, não houve o depósito de nenhuma emoção, nem conhecimento técnico ou intelectual sobre a mancha. Ele chegou a dizer que causava arrepios e boas lembranças ao observar a camisa. Será que a beleza estaria no olho de quem vê e não no objeto, como propôs Marcel Duchamp e Andy Warhol? Seria possível ter alguma impressão estética perante aquilo? Estava comprovado, era uma brincadeira. Como eu não tinha o que perder no joguinho, resolvi entrar na dança. Confirmei que era uma pintura, mas que era de um único dono, eu mesmo. Em poucos dias, minha fama era notória. Todos na empresa passaram a expressar suas emoções perante a melequeira causada pelo molho de “catchup”, que me concedeu uma promoção e ficou eternizado como slogan da empresa.


Por Jabs Barros

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