segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PROGRAMA MÁRCIA: ENTRETENIMENTO?


Por Jabs Barros

Falarei aqui sobre um programa que não tem nenhum cunho jornalístico, mas que por ser exibido em TV aberta, desempenha um papel de formador social. Esse, faz parte dos programas populares, não passa na verdade de um reality show. Em um Relatório Final do Projeto Integrado de Pesquisa, “Narrativas do Cotidiano: na mídia, na rua”, são citadas três características para esse tipo de programa. A primeira seria usar pessoas até então não reconhecidas, tidas como “pessoas comuns”, evitando colocar atores famosos, jogadores, enfim. Teria como segunda característica trazer fatos reais exageradamente - apesar de muitas vezes serem modificados como forma de ampliação da audiência -, mas a preocupação da veracidade dos fatos sempre ficava nas mãos dos telejornais. Como última característica, teria a invasão de privacidade, através de depoimentos ou até mesmo invadindo casas com câmeras escondidas.

No meu dicionário, entretenimento significa distração, passatempo ou divertimento. Só que não vejo junção entre as partes envolvidas e o Programa que falarei. A desgraça alheia é um divertimento? Para alguns até é, porém, não se deve explorar como produto, já que as soluções trazidas por esses programas são óbvias que qualquer vizinho ou amigo poderia resolver.

O programa é o da apresentadora Márcia Goldschmidt, exibido atualmente na TV Bandeirantes. Esse programa fere em diversos aspectos o Código de Ética do Jornalismo, além de outros, como o Estatuto da Criança e do Adolescente. Defender os direitos do ser humano, os valores da democracia representativa e a livre iniciativa, já não é o papel da televisão, se analisado do ponto de vista Márcia. Mas ela não é a única que faz isso, diversos outros programas tratam isso com muita naturalidade. A escolha do programa se deu porque ninguém faz isso com tanta primazia como ela. Ela, sim, é a absoluta. A cantora Stefhany que se cuide.

Com a facilidade de se divulgar notícias, fotos e vídeos pela rede mundial de computadores, pode-se ter acesso fácil a vídeos desse programa que pode identificar os vários problemas éticos ali existentes. No site “youtube”, podemos encontrá-los. Um deles mostra Márcia tentando apartar uma briga de senhoras e correndo como uma louca pelo palco. Aquele que tem uma percepção mais aguçada até diria que ela está fingindo se importar com a integridade física das senhoras, mas que sua audiência talvez seja a sua maior preocupação naquele momento.

No Código de Ética dos Jornalistas, estão expressos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o qual Márcia nunca deve ter lido. Nesse programa, dito “de utilidade pública”, deveria mostrar os fatos e as informações de interesse público, mas o que ele faz é mostrar situações do cotidiano como belos espetáculos para serem assistidos comendo pipoca e tomando coca-cola.

O ponto mais importante em seu programa deve ser este: “respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão”. O que mais se vê são detetives perseguindo casais em plena cidade, tentando flagrar a entrada em algum motel ou tentar fotografar algum beijo numa praça qualquer. Sem mencionar que o nome e o rosto do indivíduo é mostrado várias vezes durante o programa, como um foragido no Linha Direta, outro programa que fere algumas regras.

Num outro ponto ela realmente esbanja conhecimento: “defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias”. Foi ao ar no dia 21/01/2008 e, como se não bastasse, reprisado no dia 04/03/2008, um programa no qual o direito à dignidade da criança não estava sendo levado em conta. O título da matéria era o seguinte: “Conflito entre casal: Eles tiveram um filho japonês”. Por aí já tiramos o quão apelativo o programa é e de um sensacionalismo exacerbado.

Enquanto o casal discutia de quem seria a paternidade da criança, várias fotos do menino de aproximadamente quatro anos eram exibidas exaustivamente, com a finalidade de comparação de seus traços faciais com as do genitor. Agora imagine o dia seguinte dessa criança na escola ou na rua ao brincar com seus colegas. Ele seria motivo de chacota por ter sido mostrado de maneira irresponsável. O Estatuto da Criança e do Adolescente e seu artigo 17, diz o seguinte:

Art. 17 - O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

E na página do seu programa no site da TV Bandeirantes, seu programa é descrito como “entretenimento”, acredite. Veja um trecho de sua propaganda: “Um programa dinâmico e ousado que, além de entretenimento, leva informação e orientação aos telespectadores”. Com certeza seria cômico, se não fosse trágico.


Conclui-se que não há preocupação nenhuma com os direitos humanos. O rádio, a TV, os jornais de um modo geral, todos devem ter esse compromisso. A mídia é grande influenciadora na vida das pessoas. Desde o modo de se vestir a certas ideologias, portanto, o compromisso ético deve ser aplicado em todos os seus patamares.


Fontes: band.com.br, fenaj.org.br, youtube.com

*Vários autores. Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade. Relatório Final do Projeto Integrado de Pesquisa “Narrativas do Cotidiano: na mídia, na rua”. S/d.

*Atualmente há o livro” Narrativas do Cotidiano: na mídia, na rua”, que foi organizado por César Guimarães e Vera França, lançado pela editora Autêntica.


Por Jabs Barros

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ARTE? ONDE?


Por Jabs Barros

No corre-corre do dia-a-dia, quase não se tem tempo para uma boa alimentação: cachorro-quente, pastel, torta, bolo, esse é o cardápio. A preocupação de chegar atrasado ao trabalho é sempre constante e essa pressa pode causar situações desagradáveis. O pastel, que já estava frio numa bandeja, estava no ponto para degustação, o problema é que não dava pra encontrar o recheio. Para complementar a iguaria de sabor duvidoso, achei propício acrescentar grandes dosagens de um molho bem famoso, o “catchup”. Mas o alimento possuía um orifício em local estratégico que direcionava todo o molho para um local não apropriado: minha camisa branca.

Não havia mais tempo. Fui trabalhar. Antes de entrar onde se encontravam os companheiros de trabalho, passei no banheiro e tentei tirar aquela mancha da camisa. Não obtive sucesso. A sujeira tornou-se mais suave em alguns pontos e mais evidente em outros. Era o fim. O que diria meu patrão? Acho que a imagem da empresa ficaria comprometida. Talvez se eu não trabalhasse com atendimento ao público, o transtorno fosse menor, mas não deixaria de ser um transtorno.

Quanto mais eu dava bom dia, mais olhares a mancha recebia. Uns discretos, outros mais alvoroçados. Era perceptível a curiosidade das pessoas perante a horrenda sujeira. Um corajoso se aproximou e quis saber o que era aquilo em minha roupa. Eu, gaguejando e sem encontrar uma resposta convincente, tentei fazer rodeios. Mas ele logo complementou a pergunta, dizendo que tinha visto uma pintura semelhante numa exposição européia à qual tinha ido.

Era uma brincadeira. Ninguém consideraria algo daquele tipo como uma obra de arte. Não foi algo intencional, não houve o depósito de nenhuma emoção, nem conhecimento técnico ou intelectual sobre a mancha. Ele chegou a dizer que causava arrepios e boas lembranças ao observar a camisa. Será que a beleza estaria no olho de quem vê e não no objeto, como propôs Marcel Duchamp e Andy Warhol? Seria possível ter alguma impressão estética perante aquilo? Estava comprovado, era uma brincadeira. Como eu não tinha o que perder no joguinho, resolvi entrar na dança. Confirmei que era uma pintura, mas que era de um único dono, eu mesmo. Em poucos dias, minha fama era notória. Todos na empresa passaram a expressar suas emoções perante a melequeira causada pelo molho de “catchup”, que me concedeu uma promoção e ficou eternizado como slogan da empresa.


Por Jabs Barros

O BOM E O MAU USO DA FOTOGRAFIA


Por Jabs Barros

Com o surgimento da fotografia, as pinturas foram perdendo um pouco do seu espaço. Muitos confrontos existiram, alguns anunciavam a extinção da pintura e o reinado da fotografia. As discussões em torno das duas eram constantes e o que se colocava em pauta era se a fotografia era ou não uma forma artística. Hoje, percebe-se que cada uma ocupa o seu espaço e que todas têm as suas devidas aplicações, embora que nem sempre é feita de forma adequada.

É evidente que a fotografia não tem apenas uma finalidade e, principalmente a fotografia jornalística, que dispõe de tipos diferentes. Nela, é possível encontrar um número incrível de informações. Como também é possível atrelar informação com entretenimento, além de outros segmentos. Essas informações contidas na fotografia podem falar por si só, é o ângulo pelo qual o fotógrafo vê a notícia, a melhor forma que ele percebe de repassar dados.

Um grande problema com esse avanço tecnológico está no grande número de informações que as pessoas passaram a receber através dos meios de comunicação de massa. O imediatismo na transmissão de informações é superior em quantidade à capacidade receptiva das pessoas. São notícias desconexas, perdidas no tempo e espaço. Não se sabe o que veio antes, o que realmente está acontecendo e quais as conseqüências para as pessoas.

A preocupação está deixando de ser a verdade dos fatos. Vendagem também está sendo o foco desses meios que utilizam a fotografia com fins informativos ou meramente ilustrativos. Por isso alguns estão apostando em fotos impactantes e isso está desvirtuando as boas utilizações da fotografia. Suas características de entretenimento, informação ou auxílio de um texto, agora abrem espaço para um mundo onde o sensacionalismo se faz presente. Impressos e a internet são os que mais estão utilizando esse tipo de foto, o segundo meio é o que mais compactua com essa prática que cresce consideravelmente.

O grande trunfo seria usar a criatividade e tentar ganhar a atenção de quem observa a fotografia de forma digna de confiança. Evitar utilizar exageros, desgraças alheias ou imagens fortes apenas para surpreender com a miséria das pessoas. Tudo isso pode chamar muito a atenção, mas termina levando as pessoas à banalidade. Tudo está se tornando banal: a morte, os seqüestros, a fome, a miséria, o desemprego e demais realidades que fazem parte do cotidiano das pessoas, mas que não devem ser vistas como normal, e sim, como um problema que necessita de explicações e possíveis soluções.


É algo muito gratificante saber que sua foto é vista e elogiada devido ao seu desempenho em mostrar o melhor numa imagem. Por isso esse profissional precisa despertar o pensar das pessoas, mas pra isso ele necessita usar sua capacidade de criar. Fotos de desgraças já existem muitas e caíram no gosto popular. O diferencial deve ser buscado. Porque não juntar informação, entretenimento e poesia numa fotografia? Inovar não seria uma palavra imprópria às suas leis e, com o passar do tempo, traria bons frutos, sem transformar as pessoas em meros receptores de imagens.

Por Jabs Barros

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

FORRÓ: UM RITMO PARA QUALQUER MOMENTO?

Por Jabs Barros

Acho que o forró é um ritmo que podemos ouvir em todos os momentos.

Quem é romântico, vive apaixonado ou sofrendo por uma paixão, pode encontrar bandas que trabalhem isso de uma forma especial.

Músicas que falam ou incitam atentado ao pudor, existe tanto no forró, como na MPB, como também nas músicas bregas de Roberto Carlos (que também gosto). Se há uma abertura maior em algumas delas, isso é uma questão cultural. Há palavras tidas como palavrão na região sul, o que já pode ser normal no nordeste. E vice-versa.

Quem gosta da cultura regional, coisas do sertão, trabalhador rural, vaquejadas... enfim, há bandas e cantores que se dedicam a isso.

Da mesma forma quem curte apenas dançar e ouvir o que há de melhor na junção de diversos instrumentos musicais, que seria o "sincretismo musical", muitas bandas fazem isso e continuarão fazendo. Chama-se novidade, o mundo globalizado se alimenta disso.

Letra, música, isso ou aquilo, podemos encontrar no forró. O cardápio está aí, basta cada um se servir como melhor lhe convém. O que não se pode é falar mal dessa ou daquela banda por tratar de um tipo específico de forró. Cabe a nós escolhermos o que ouvir e viver bem, isso é o que importa.

"Forró já é um ritmo eternizado. E por mais que as pessoas tentem atacá-lo, só conseguirão mais adeptos, pois ele vicia... ah, como vicia!"

Por Jabs Barros